Charles Manson foi o fundador, mentor intelectual e líder de um grupo que cometeu vários assassinatos, entre eles o da atriz Sharon Tate, esposa do diretor de cinema Roman Polanski.
Ele acreditava que os Beatles conversavam com ele através das músicas, mas principalmente através de "Helter Skelter".
Em 9 de agosto de 1969, um grupo de seguidores de Manson invadiu a casa de Roman Polanski, em Cielo Drive, 10050, Bel Air, assassinando sua esposa Sharon — que estava grávida — e mais quatro amigos do casal. As vítimas foram baleadas, esfaqueadas e espancadas até a morte, e o sangue delas foi usado para escrever mensagens nas paredes. Em uma delas foi escrito Pigs ("porcos", em inglês). Na noite seguinte, o mesmo grupo invadiu a casa de Rosemary e Leno LaBianca, matando os dois. As mensagens escritas na parede da casa com o sangue das vítimas foram "Helter Skelter", "Death to pigs" e "Rising". Os assassinatos de Sharon , seus amigos e do casal LaBianca pela "Família Manson", ficaram conhecidos como o Caso Tate-LaBianca.
O objetivo dos assassinatos planejados por Charles Manson era começar uma guerra que, segundo ele, seria a maior já travada na terra, denominada de "Helter Skelter". O nome corresponde ao título de uma música dos Beatles onde, de acordo com Manson, havia uma maior quantidade de mensagens subliminares.
Manson, então com 37 anos, foi acusado de seis assassinatos e levado à Justiça, juntamente com 'Tex' Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten, de 19 anos .
Embora fosse o líder da "família", ele alegou não ter participado pessoalmente de nenhum deles. Manson declarou durante o julgamento o seu ódio profundo pela Humanidade, chamando os membros de sua família de rejeitados pela sociedade. A promotoria se referiu a ele como "o homem mais malígno e satânico que já caminhou na face da Terra", e o quinteto foi sentenciado à morte em 1971. Mas, com a mudança nas leis penais do estado em 1972, a pena deles foi alterada para prisão perpétua.
Nas últimas décadas Manson vem tentando conseguir liberdade condicional, mas teve seus apelos negados em todas as ocasiões, continuando encarcerado na Corcoran State Prison, Califórnia, em unidade especial de isolamento da penitenciária, onde também se encontra cumprindo prisão perpétua o assassino do senador Robert Kennedy, Sirhan Sirhan. Sua última tentativa em audiência, negada novamente, foi em 2007.
Manson continua fazendo discípulos
Mesmo cumprindo prisão perpétua numa penitenciária, Manson continua fazendo discípulos na música pop. Um dos casos mais recentes foi o de Axl Rose, da banda Guns N' Roses. "The Spaghetti Incident" seria apenas mais um disco da banda, se entre as músicas não houvesse a "Look at your game, girl" de ninguém menos que Charles Manson. Axl que durante muitos shows da banda também desfilou com a imagem de Manson estampada numa camiseta, tentou justificar a escolha da canção de Manson, um dos assassinos mais frios que o mundo conheceu, porque a música tinha uma letra 'interessante'. O mais novo fã usa o nome de Manson junto com o de Marilyn Monroe, no seu nome artístico. Trata-se de Marilyn Manson, andrógino, bissexual, satanista assumido que chega a assustar até mesmo metaleiros pesados, fãs de Iron Maiden, Ozzy e companhia. Anton La Vey, autor da Bíblia Satânica e fundador da Igreja de Satã, nos Estados Unidos (já falecido), consagrou Marilyn sacerdote satanista antes de falecer.
Sobre Helter Skelter:
Segundo "Paul McCartney" (ou seria o sósia?), Helter Skelter é "a mais barulhenta, mórbida e pesada" música que eles seriam capazes de criar. Embora na Inglaterra "Helter Skelter" signifique algo como uma viajem deslumbrante, nos EUA significa "caos total".
E, realmente, na primeira vez que os Beatles gravaram a música em Abbey Road, eles estavam tão tomados por este espírito pesado e penetrante que ficaram tocando a música por mais de dez minutos na primeira tentativa, mais de 15 minutos numa segunda, e como num épico, mas ainda penetrante e dedicado, vinte e sete minutos numa terceira versão. No dia 9 de Setembro de 1968, à noite eles gravaram a versão que você ouve no disco, e mantiveram a duração em quatro minutos e meio, sem perder a "selvageria". O grito desesperado de Ringo "I've got blisters on my fingers" foi gravado em fita, mas os Beatles também estavam gravando um vídeo naquela noite, isso mostrava George atirando fogo num cinzeiro e correndo em volta do estúdio, equilibrando-o em sua cabeça como uma coroa flamejante."
- Mark Hertsgaard, A Day In The Life
Muitas pessoas pensam que a versão de "Helter Skelter" de 27 minutos é tão pesada e rápida como a versão encontrada no álbum. Mas não. A versão do álbum foi gravada cerca de dois meses depois. A versão longa é tocada num tempo mais lento, um tipo de uma marcha, parecido com a que está no Anthology 3.
Recording Sessions
"Eu voltei das minhas férias e achei um bilhete de George na minha mesa. Dizia: 'Chris, espero que tenha tido férias maravilhosas. Eu estou indo pras minhas agora, então, esteja disponível para os Beatles. Neil e Mal sabem que você está indo.' Levou um tempo pros Beatles me aceitarem. O primeiro a falar comigo foi Paul. E foi mais ou menos assim:
PAUL: 'O que você está fazendo aqui?'
CHRIS: 'George não te falou?'
P: 'Não!'
C: 'Bem, ele disse para mim vir até aqui e ajudar vocês.'
P: 'Bom...se você quiser produzir nosso disco, você pode. Se você não quiser, então eu posso te dizer pra se f...'
Isso era motivação? Eu quase não conseguia falar depois disso..."
- Chris Thomas, produtor da versão final de "Helter Skelter"
Quinta-feira, 18 de Julho de 1968
Estúdio 2, 22h30 às 3h30
Helter Skelter - Takes 1-3
Produtor: George Martin
Engenheiros: Ken Scott, Richard Lush
A noite do dia 18 de Julho foi gasta gravando três versões longas de "Helter Skelter", a nova canção de Paul, que invocava o nome de uma montanha-russa num parque londrino. Porém, a versão que aparece no LP The Beatles é totalmente diferente dessa. A versão do LP é um re-make, iniciado em 9 de Setembro. As versões gravadas nesse dia são ensaios primários.
O Take 1 dura 10:40, o take 2 tem 12:35 e o take 3 é um épico com 27:11, a gravação mais longa da história dos Beatles. As três versões são parecidas: guitarras, baixo, bateria e vocais gravado ao vivo, sem "overdubs". Bateria pesada, guitarras extremamente altas e uma performance vocal memorável, providenciada por Paul, que nada tem a ver com a versão final, a não ser a letra. Cada take se transforma numa Jam consciente e dedicada, com longas passagens instrumentais.
Brian Gibson estava providenciando detalhes técnicos: "Eles gravaram as versões longas de 'Helter Skelter' com o eco ao vivo. O eco é normalmente adicionado nas mixagens para que possa ser removido caso o resultado não seja bom, mas dessa vez eles queriam ao vivo. Uma dessas versões se transformou numa Jam que entrava e saia numa versão bizarra de 'Blue Moon'. O problema era que, embora estivéssemos gravando em 15 ips - o que significa, cruamente, que tínhamos 1h30 de fita - o gravador que trabalhava o eco só aceitava 30 ips, em outras palavras, 15 minutos. Nós estávamos sentados na sala de controle - Ken, Richard e eu - olhando para a fita do eco, que estava no fim. Os Beatles estavam tocando, sem dar a mínima para o tempo de fita, e nós não sabíamos o que fazer, pois eles estavam obtendo o retorno em seu fones de ouvido para poder ouvir o eco. A gente sabia que se parássemos a fita eles notariam, e não iam gostar. Então a gente decidiu parar a fita e retornar. Então, em um certo ponto, o eco para súbitamente, e você ouve um bllllrrrriiiipppp enquanto isso era retornado. Isso fez Paul improvisar um tipo inteligente de vocais baseados nos barulhos dos bastidores!"
Segunda-feira, 9 de Setembro de 1968
Estúdio 2 - 19h00 às 2h30
Helter Skelter (remake) - Takes 4-21
Produtor: Chris Thomas
Engenheiros: Ken Scott, John Smith
A gravação do dia 18 de Julho tinha parcialmente realizado o desejo de Paul de criar uma "cacofonia" musical. O problema era que, com o melhor take daquelas sessões durando mais de 27 minutos, a música preencheria um lado inteiro do LP. Então eles decidiram gravar um remake, com a mesma energia, peso e "morbidez" de antes, mas mantendo a duração em 3 ou 4 minutos. Na verdade, a duração é a única coisa especificada neste remake, nesta, assim denominada, "sessão louca".
Brian Gibson estava presente de novo: "A versão do disco está fora de controle. Eles estavam completamente loucos naquela noite. Mas, como sempre, a desatenção se transformou em o que os Beatles faziam em estúdio. Todos sabiam o que eles estavam tomando, mas a única autoridade pra eles no estúdio eram eles mesmos. Enquanto eles não fizessem nada muito ultrajante, a gente tolerava"
Todos os tipos de instrumentos estavam sendo testados. O resultado final - o take 21, que recebeu "overdubs" no dia seguinte - é uma faixa onde John toca contrabaixo e, amadoramente, saxofone, Mal Evans toca o trumpete, no mesmo estilo de John. Duas guitarras solo, providenciadas por Paul e George, a bateria hipnotisante de Ringo, um piano, distorções e "feedbacks", backing vocais de John e George, vários barulhos, e um vocal principal surpreendente e cru de Paul. Se "Revolution 9" era o experimento vanguardista de John, "Helter Skelter" era o de Paul. Mas foi Ringo quem deu o toque final perfeito. Depois de tocar bateria como se sua vida estivesse dependendo disto, seu grito "I've got blisters on my fingers!" foi preservado no disco, e dá uma demosntração do que foi gravá-la.
Terça-feira, 10 de Setembro de 1968
Estúdio 2 - 19h00 às 3h00
Helter Skelter - "overdubs" no take 21
Produtor: Chris Thomas
Engenheiros: Ken Scott, John Smith
"Overdubs" finais em "Helter Skelter". Chris Thomas lembra: "Enquanto Paul gravava seu vocal, George pôs fogo num cinzeiro e começou a correr em volta do estúdio com ele na cabeça, fazendo um número de Arthur Brown! (comediante inglês) Foi uma sessão bem indisciplinada, como pode ver..."
Quinta-feira, 17 de Setembro de 1968
Estúdio 2 - 19h00 às 5h00
Helter Skelter - Mono Remix 1, do Take 21
Produtor: Chris Thomas
Engenheiros: Ken Scott, Mike Sheady
Sábado, 12 de Outubro de 1968
Estúdio 2 - 19h00 às 5h45
Helter Skelter - Estéreo Remixes 1-5, do take 21
Produtor: George Martin
Engenheiros: Ken Scott, John Smith
A remixagem de "Helter Skelter" foi vital para a música. Há várias diferenças entre a versão mono e a estéreo. A Mono acaba com 3:36, a estéreo tem mais um minuto extra, acabando com 4:29. No estéreo tem o "fade out-in" e o grito de Ringo ao final, o Mono não. Existem ainda várias diferenças menos significantes.
Quarta-feira, 9 de Outubro de 1968
Estúdio 2 - 19h00 às 5h30
Produtor: George Martin
Engenheiros: Ken Scott, John Smith
Durante esta sessão, Paul tirou a fita do dia 18 de Julho da gaveta e fez uma cópia do take mais longo, com 27:11, para guardar em sua coleção.
Out-Takes
Depois de tanta falação sobre as gravações, você deve estar se perguntando o que está disponível por aí, não é? Então lá vai...
11 de Junho de 1968
Um mês antes de gravarem o primeiro Take de "Helter Skelter", uma versão acústica foi gravada em fita e filmada no meio dos ensaios de "Blackbird". Foi filmado em cores por Tony Bramwell, e seria usada em uma propaganda da Apple Corps. Esta versão acústica foi ao ar na TV holandesa no programa "Vara's Puntje" no dia 27 de Setembro de 1968. Este out-take está disponível, em sua melhor versão, no bootleg "Gone Tomorrow, Here Today" (Midnight Beat 113)
18 de Julho de 1968
Um out-take da primeira sessão de "Helter Skelter" está disponível, graças ao projeto Anthology. Oficialmente lançado está o Take 2, que originalmente dura 12:35, mas no Anthology 3 foi reduzida pra menos de 5.
9 de Setembro de 1968
Dessa sessão só está disponível uma versão do acetato original do álbum, com umas passagens extra de guitarra. Estão nos piratas "Lord Of Madnness" (Masterfraction MFCD001) e "Primal Colours" (Masterdisc MDC009) em estágios diferentes de mixagem.
Bibliografia
"The Beatles", Hunter Davies
"Beatlesongs", William J. Dowlding
"The Beatles: A Day In The Life", Mark Hertsgaard
"The Complete Beatles Chronicle", Mark Lewisohn
"The Beatles Recording Sessions", Mark Lewisohn
"A Hard Day's Write", Steve Turner
"Lennon Remembers", Jann Wenner
"The Ultimate Recording Guide", Allen J. Wiener
www.thebeatles.com.br
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